Câmara se torna espaço de debate da importância do povo negro na formação cultural e política de Cáceres
A Câmara de Cáceres tem sido um espaço de debate sobre a importância do povo negro na formação cultural e política da cidade. Só nos últimos meses, a Casa de Leis protagonizou três eventos como forma de valorizar a negritude cacerense, que, normalmente, é invisibilizada pela história oficial.
As ações ocorreram entre maio e julho. Em maio, a prefeita Eliene Liberato atendeu uma indicação da vereadora professora Mazéh Silva (PT), no sentido de incluir no calendário oficial de datas comemorativas do município, o Dia dos Povos de Matriz Africana, que passou a ser comemorado todo dia 21 de março.
Já em julho, as atividades se intensificaram em razão do movimento Julho das Pretas, que prevê uma série de atividades para valorizar o papel da mulher negra na sociedade cacerense.
Assim, foram promovidas uma entrega de Moções de Aplausos às lideranças femininas do Movimento Negro; e audiência pública com os povos de religiões de matriz africana.
"As moções foram para as lideranças que conhecem de perto a realidade, as demandas das famílias nos bairros mais carentes, as dificuldades das mães solo... Na pandemia [de Convid-19], por exemplo, elas tiveram um papel fundamental, pois movimentaram cestas básicas, álcool em gel e máscaras. Por isso é um reconhecimento simbólico e mais do que justo", destaca a vereadora Mazéh, que, juntamente com o vereador Leandro Santos (UNIÃO), foi a autora das moções entregues em 28 de julho.
Dois dias depois das homenagens, a Câmara de Cáceres - também sob a mediação da professora Mazéh - promoveu a reunião com os povos de religiões de matriz africana.
Na oportunidade, babalorixás e pais-de-santo da umbanda e do candomblé expuseram suas demandas, como os ataques sofridos por terreiros, devido à intolerância religiosa. Nesse sentido, salientou a importância do Poder Público fazer campanhas para orientar a população em geral, quanto ao respeito à diversidade religiosa.
Outra questão debatida foi a necessidade de se regularizar os terreiros, para que esses espaços sejam isentos de certos tributos, a exemplo dos templos de religião cristã.
Sobre a audiência, Mazéh destacou ainda que foi um momento importante para Câmara, em que envolveu a participação de outros vereadores e vereadoras, que atenderam ao chamado da reunião, a exemplo de Luiz Landim (PV), o presidente da Casa de Leis; e dos vereadores Isaías Ribeiro (Cidadania), Manga Rosa (PSB), Flávio Negação, Rubens Macedo (PTB), Franco Valério e Vadeníria Bezerra (PSB )
"Intolerância religiosa, racismo religioso. São questões abomináveis.Eu sou adventista de 7º dia e temos um respeito muito grande por todas as religiões. Estamos aqui à disposição, naquilo que tem que ser respeitado", disse o vereador Isaías durante a audiência.
Para Mazéh, a fala do colega ilustra a postura dos parlamentares no sentido de acolher o povo de santo.
"Na audiência, os sacerdotes vieram com toda vestimenta das religiões de matriz africana: batas, turbantes, pulseiras e colares. Isso ainda causa certa estranheza nos demais parlamentares. Mas a ideia é, cada vez mais, quebrar isso. É fazer entender que algumas
demandas precisam ser olhadas com mais carinho, como o fato de que terreiros precisam ser vistos como templos religiosos, da mesma forma que as igrejas evangélicas são vistas", ressaltou a parlamentar.
Por Marcio Camilo
Imprensa Câmara Cáceres